sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A dor

Um momento ruim e tu pensas em desistir. A ti são entregues tarefas a serem cumpridas. Não desistas. Conselhos, quantos conselhos tu já deste? E hoje? Já recebeste algum? Tua resposta não necessariamente precisa ser positiva.


O positivismo, muitas vezes, quantas vezes, parece ser diferente de um presente, que assola dias e dias sem que percebas quão boa é a vida que a ti foi entregue. Tu andas a pensar que tudo que envolve teus amigos é mentira, uma falsidade que corrói, destrói. Um fingimento que finge tão bem que até parece mentira. Mentira?


Tu resolves espalhar ao vento que a ti foi entregue uma vida sem sentido. Anda, pensa, anda mais, vê um pipoqueiro. Que sorriso, que lindo! Crianças chegam perto. Uma te entrega uma rosa:


_Uma rosa?
_Para ti, que pareces estar tão triste.
Um leve sorriso resolve sair em teu rosto.
_Obrigada. Qual o teu nome?
_Carlos, mas pode chamar Carlinhos.
_Obrigada, Carlinhos
O sorriso some. Tu despedes e sai.


O sol está se pondo, as crianças continuam brincando. O pipoqueiro continua lá, sorrindo. Tu resolves comprar um saquinho de pipocas. Será que ele vai sorrir para ti? É engraçado. Há um mês estava no mesmo lugar. Tu não consegues suportar. Dói pensar na dor. É estranho pensar.


A volta para casa é longa. Tu resolves caminhar. Pensas, repensas. Paras em uma banca de revistas. Será que ainda tem jornal? Por sorte sim. Resolves parar e ler.


Que dia é hoje? E voltas o olhar para a parte superior do jornal. Vinte de dezembro. Faltam cinco dias para o natal.


Natal? O que festejar? O nascimento de alguém que não estava ao teu lado quando mais precisaste? Quanta incoerência. Quanta solidão. Quanta vontade de gritar. Mas, ali no meio da rua? As pessoas olham. A vontade, tu pensas, é de te atirar no mar. Mas agora? Agora é tarde. Não tarde porque já passam das sete da noite.


Era vinte de novembro, ele brincava na orla da praia. O mar estava frio, bem frio. Te lembras de teres pedido para ele não entrar n'água. Ele desobedeceu. Por quê? Tu começas a lembrar do desespero, da aflição, da vontade de te atirar no mar. Mas não, tu não sabias nadar.


Tu paraste em frente ao mar. Pediste socorro. As pessoas chegaram, procuraram. Não, não eram teus amigos, eram desconhecido. De repente, tu viste um homem correndo com ele nos braços.


O homem colocou a criança na areia. Tu olhaste, pediste, gritaste, mas teu filho não respondeu.


_Infelizmente, ele não resistiu, disse o homem.
Tu choraste. Desconsolada, chamavas, não desistias. Tentavas.
_Carlinhos?
Teu filho não reagiu. Não respondeu, não chorou.
_Carlinhos?


Não adiantou. Teu filho morreu ali. E essa dor? Bom, essa é uma dor que não terá fim.


Tu fechas o jornal. Olhas para o mar. Covarde, levou teu filho, tua vida. Leva também essa dor. E te atiras.

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